terça-feira, 21 de abril de 2009

Condicionada a sentir medo

Peguemos uma situação hipotética e analisemos o desenrolar dela em dois ambientes diferentes. Vejamos, uma mulher caminhando sozinha, um pouco antes das 19h, já escuro, e com uma névoa de chuva que faz a rua ficar mais vazia.

- Em Florianópolis:
Ela anda aproveitando o sereno no rosto.

- Em São Paulo:
Ela anda mais rápido, olhando para o chão mas atenta a tudo o que passa à sua volta.

Eis que vem um carro no outro lado da rua, com um jovem entre 20 e 30 anos dentro, e pára. Ele fica olhando para ela e ela...

- Em Florianópolis:
..fica olhando também, meio alheia.

- Em São Paulo:
...pega o celular meio que não olhando para ele e fingindo que alguém ligou.

E aí, depois que ela passa, o carro dá a volta e vai andando mais devagar do lado dela. Ela...

- Em Florianópolis:
...pára e pergunta se ele quer alguma informação.

- Em São Paulo:
...dá meia-volta e vai correndo para o camarada da segurança privada de uma casa que ela viu 30 metros antes.

Sim, eu passei por isso por aqui. E agi dessa maneira insana, tudo para acabar descobrindo que o cara do carro era da mesma segurança privada. Ok, trabalho lá, moro acolá, passarei sempre por aqui, boa noite a todos.

Hoje, andando pela casa, vi um cara na laje que fica atrás da oficina do outro lado da rua olhando para cá. Novamente a atitude hostil de olhar para lá e fingir que falava no celular - que falava dele, obviamente. E o cara? Nem aí, continou olhando. Ou não, ou olhava para outro lugar. Ou é cego. Ou é um tremendo cara-de-pau mesmo. Até brinquei no twitter que tiraria uma foto dele e colocaria no flickr, mas não, né?

Enfim, não sei se é a realidade ou se é mais a fama da cidade, mas a verdade é que eu estou sim me sentindo insegura por estar sozinha. Parece que ouço minha mãe o tempo todo, no meu ouvido: "se tu ainda fosse casada...".

E aí eu me pergunto: para onde eu me mudei que uma mulher sozinha não pode andar pela rua ou ficar em casa sem companhia? Afeganistão???

Não sei como a vida vai ficar por aqui, mas espero, do fundo do coração, perder esse medo com o passar do tempo. Pelo menos um pouco dele, o suficiente para eu me sentir numa boa, na minha casa.

2 comentários:

  1. Anacris, quando nos mudamos pro Rio eu sentia pavoor! Suava frio ao ter q sair sozinha, circular pela cidade. Aos poucos o pavor foi passando e ficando só um medinho, que é sempre bom pra sinalizar se tá tudo nos conformes. Beijão pra você e pras crianças!

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  2. Oi Anacris, cheguei aqui pelo comentário que vc fez no Ombudsmãe. Adorei o nome do seu blog! Vivi uns 20 anos em Sampa. A princípio como uma mulher em Floripa. Mas com o tempo, a neura foi me dominando. Uma vez, apavorada em pegar o carro numa rua escura, à noite, abri a porta correndo e nocauteei meu nariz! Tive que tirar raio-x tamanha a cacetada. Acho que um bandido teria pegado mais leve comigo. Acho que pior do que a insegurança é a sensação de medo. Um beijão!

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Pode escrever aí sem nem pensar, tá tudo liberado.