Peguemos uma situação hipotética e analisemos o desenrolar dela em dois ambientes diferentes. Vejamos, uma mulher caminhando sozinha, um pouco antes das 19h, já escuro, e com uma névoa de chuva que faz a rua ficar mais vazia.
- Em Florianópolis:
Ela anda aproveitando o sereno no rosto.
- Em São Paulo:
Ela anda mais rápido, olhando para o chão mas atenta a tudo o que passa à sua volta.
Eis que vem um carro no outro lado da rua, com um jovem entre 20 e 30 anos dentro, e pára. Ele fica olhando para ela e ela...
- Em Florianópolis:
..fica olhando também, meio alheia.
- Em São Paulo:
...pega o celular meio que não olhando para ele e fingindo que alguém ligou.
E aí, depois que ela passa, o carro dá a volta e vai andando mais devagar do lado dela. Ela...
- Em Florianópolis:
...pára e pergunta se ele quer alguma informação.
- Em São Paulo:
...dá meia-volta e vai correndo para o camarada da segurança privada de uma casa que ela viu 30 metros antes.
Sim, eu passei por isso por aqui. E agi dessa maneira insana, tudo para acabar descobrindo que o cara do carro era da mesma segurança privada. Ok, trabalho lá, moro acolá, passarei sempre por aqui, boa noite a todos.
Hoje, andando pela casa, vi um cara na laje que fica atrás da oficina do outro lado da rua olhando para cá. Novamente a atitude hostil de olhar para lá e fingir que falava no celular - que falava dele, obviamente. E o cara? Nem aí, continou olhando. Ou não, ou olhava para outro lugar. Ou é cego. Ou é um tremendo cara-de-pau mesmo. Até brinquei no twitter que tiraria uma foto dele e colocaria no flickr, mas não, né?
Enfim, não sei se é a realidade ou se é mais a fama da cidade, mas a verdade é que eu estou sim me sentindo insegura por estar sozinha. Parece que ouço minha mãe o tempo todo, no meu ouvido: "se tu ainda fosse casada...".
E aí eu me pergunto: para onde eu me mudei que uma mulher sozinha não pode andar pela rua ou ficar em casa sem companhia? Afeganistão???
Não sei como a vida vai ficar por aqui, mas espero, do fundo do coração, perder esse medo com o passar do tempo. Pelo menos um pouco dele, o suficiente para eu me sentir numa boa, na minha casa.
Blues Velvet
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Tenho uma história em cada canto deste lugar
Nem todas publicáveis
Mas todas parte de mim
Aqui fui feliz e triste
Dancei, cantei
Me diverti e diverti...
Há 9 meses