quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Conto para espantar a insônia

(Não sou de dedicatórias, mas lembrei da Manola, claro, e seu trauma com dedões)

- Ai, tô há doze horas trabalhando...
- Ah, vá, é a despedida daquele sul-africano, o que passou o ano-novo com a gente.

Aceitou o convite para fazer o amigo gay feliz. Na tal despedida, no apartamento de alguém, era ela e mais quatro. Lembrou da amiga, que seria o mais macho da cozinha, e riu.

- Cerveja... - pediu, lânguida (se ainda usassem essa palavra), enrolando um cachinho imaginário no cabelo mais liso que de índia.

E vinha cerveja. E tocava música boa. E ouvia histórias divertidas. E alguém tentava traduzir tudo em um inglês meio tosco para o sul-africano, que apenas sorria abobado. Começou a relaxar e, com calor, tirou o scarpin 34, pés de fada.

- Ela pinta as unhas do pé de VERMELHOOOOOOOOOOO!!!

As bichas foram ao delírio, parecia que a própria Madonna tinha chegado à festa, naquela época sem sinal de Jesus. O dono da casa deu uma piscadinha. Ela pensou que não viu direito, mas ela sabia que sempre via direito. 

- Massagem... - tentou.

E três lhe atenderam. Um em um pé, outro no outro. Para o terceiro sobrou a mão, ele aceitou rindo. O dono da casa não. Esse apenas brincou, com um acento afeminado na frase e um olhar quase de desdém: eu chupava esse dedão com unha carmim...

Ela, olhar manhoso, arriscou: pode ser, mas o dedão é só o começo...

Todos riram, menos o sul-africano. Quando traduziram, riu amarelo, se é que se ri amarelo na África do Sul. A verdade é que ele era hóspede da casa desde o dia 2, no lugar de honra, na única cama da casa.

Mais cerveja, mais riso, mais música, dois se levantam, hora de ir embora. Ela se mexe em direção aos sapatos. "Fica", pede uma mão no pescoço.

- Sim...

Já no quarto, o dono da casa cumpre o prometido e começa pelo pé. O sul-africano começa um "i don´t like this... i don´t like this...". O anfitrião responde com uma pegada forte, tempero brasileiro, mas ainda com o pé dela em uma das mãos. "Do you like THIS?".

Com uma cara mais manhosa que a dela, responde.

- Yes...

No dia seguinte as amigas queriam saber da festinha de última hora.

- O sul-africano é um cara massa. Até aprendeu um português de última hora. Só ficava repetindo, várias vezes. "Não machuquem". O sotaque é engraçado, né?

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